Três trabalhadoras da categoria, atuando em três instituições diferentes, em três funções diferentes. Diferentes vivências, motivações, opiniões... Mas em todas, a mesma garra e a mesma dedicação para atuar com profissionalismo, superar os desafios e conquistar seu espaço no mercado de trabalho.
Neste Mês da Mulher, trazemos os perfis de três mulheres que honram a categoria na Bahia - Gisa, Denise e Tenildes. A intenção é, a partir delas, homenagear as milhares de trabalhadoras que diariamente atuam em instituições beneficentes, religiosas e filantrópicas do estado. A todas vocês, nossos parabéns pelo Dia Internacional da Mulher e nosso desejo de um futuro com mais reconhecimento, mais igualdade e mais oportunidades.
Adalgisa Souto Maia (Gisa)
Tem 73 anos, atua em Salvador (na fronteira com Simões Filho) e é professora. Há 43 anos, fundou e preside a Associação civil das Missionárias e Missionários da Fraternidade Cristã, que atua na Bahia e em outros estados do Nordeste.
Como chegou até a categoria
O MFRAC teve início de forma livre e com poucas pessoas na “Invasão da Saramandaia”, naquele tempo um dos bairros periféricos mais carentes de Salvador. Dois anos depois escrevi um livro sobre a realidade da favela e esse livro trouxe muitos colaboradores que até hoje atuam conosco! A nossa atuação começou através de escolas nas favelas e depois se seguiu como luta de apoio e resistência quando o povo era posto fora pela prefeitura em conluio com grandes empresários. Ficávamos como suporte, trazendo a mídia, o apoio de entidades de defesa dos direitos humanos e apoio jurídico! Atuamos também nas ruas visitando os sem teto e isso começou a se alastrar por outras cidades através da Pastoral Carcerária, Pastoral da Mulher Marginalizada, espaços de acolhimento e recuperação de dependentes químicos. O local onde moro com uma comunidade é considerado a casa-mãe dos projetos, onde desenvolvemos um trabalho que inclui 60 crianças numa creche e 120 em oficinas. Também temos outros projetos que precisaram ficar suspensos nos dois anos de pandemia.
As mulheres na categoria
Vivenciei discriminação dentro da minha própria Igreja, já que somos missionárias e evangelizadoras mas, segundo o Código Canônico, não poderíamos proclamar o Evangelho, algo concedido apenas aos homens. Mas o Papa Francisco tem sido um grande defensor da paridade feminina na Igreja e da igualdade de direitos. Assim, ele suprimiu do Código Canônico aquela aberração!
Lidei com situações de discriminação não me calando, conscientizando sempre da igualdade, buscando abrir novos espaços e nunca deixando passar uma oportunidade de atuar quando uma brecha nos é aberta!
Nós trabalhamos em um ambiente quase exclusivamente feminino e escutamos o que fora desse espaço restrito se passa! Aqui tomamos conhecimento de maus tratos a mulheres nas suas famílias, machismo, injustiças como a de pais que abandonam as mulheres e não pagam pensão aos filhos, gravidez precoce, pré-adolescentes envolvidos em redes de tráfico... São muitos desafios, e sempre buscamos apoiar as vítimas quando dentro do nosso círculo de atuação.
Como vê a condição feminina no mercado de trabalho
Os dados falam mais do que as palavras: as mulheres ganham sempre menos, embora ocupem as mesmas funções e muitas vezes de forma mais competente e proativa. Principalmente na área política gostaríamos que houvesse paridade, e que mais mulheres compreendessem o valor e a importância da nossa presença e atuação para transformar o mundo! Faz muita falta a paridade feminina no social (tão desvalorizado e estigmatizado) e no político! Se mais mulheres governassem as guerras desapareceriam, porque somos amantes e aliadas da vida e a defendemos... Vida significa nossos maridos, filhos e filhas, netos, sobrinhos... A mulher carrega a vida em seu seio, nutre-a com a sua própria substância, ampara-a no seu crescimento, assiste-a na sua fragilidade, acompanha-a no seu declínio! Somos parceiras do Deus da vida, Ele é a minha e a nossa motivação! Jesus e seu projeto transfigurador da realidade nos motivou, enviou e mantém nosso axé, nosso élan com sua graça por toda a jornada que até hoje fizemos!
Denise da Paz Santos
Tem 68 anos, é pedagoga e atua como diretora do CEBAF – Centro Educacional Batista Filadélfia - em Salvador. Está há 21 anos na categoria.
Como chegou até a categoria
Fui convidada pelo Presidente para assumir a escola e creche pela confiança, não tinha nenhuma pretensão de trabalhar em uma escola e nem tinha formação para tal, mas gostei e fui me qualificar. Fiz o curso de Pedagogia e logo depois a pós-graduação em Psicopedagogia.
Como é trabalhar na categoria
É preciso ter otimismo, coragem, integridade, respeito, honestidade, humildade, generosidade e disciplina. O grande desafio da educação na atualidade é transformar-se, é abrir-se às mudanças, é tornar-se “atraente” às crianças e jovens, é fazer com que estes se tornem sujeitos ativos na construção do conhecimento.
As mulheres na categoria
Certa vez o pai de uma aluna agrediu uma professora com xingamentos, ameaças de colocar a colega atrás das grades, de chamar a televisão, porque a filha tinha dito que a professora tinha batido nela. No momento nos sentimos impotentes, mas depois do susto tentei acalmá-lo. No outro dia, falei pra ele que, como não existia mais confiança na professora, o melhor era que ele colocasse a filha em outra escola.
Sobre a predominância de mulheres na categoria, Almeida (1998, p. 64) utiliza a expressão “feminização do magistério primário” referindo-se à expansão da mão-de-obra feminina nos postos de trabalho em escolas e nos sistemas educacionais, à frequência das Escolas Normais e aos traços culturais que favorecem a ocupação do magistério pelas mulheres.
Condição feminina no mercado de trabalho
As mulheres já conseguiram papel na maioria das profissões que antes só tinham homens; acredito que ainda existam muitas dificuldades e desafios para a mulher. Ainda falta muito para adquirir dignidade e respeito.
Tenildes Sampaio
Aos 54 anos, ela atua há quatro como secretária na Igreja Batista do Salvador, na capital baiana.
Como é trabalhar na categoria
Devemos ter dedicação, amor ao trabalho, responsabilidade, tempo e compreensão. Os desafios são: ter paciência e conseguir atender as necessidades das pessoas.
As mulheres na categoria
Creio que a maior presença de mulheres tem relação com o fato de que mulheres costumam ter mais empatia, nós somos mais pacientes e dedicadas.
Condição feminina no mercado de trabalho
Entendo que ainda somos pouco valorizadas e que certamente enfrentamos mais dificuldades do que os homens. Estamos evoluindo aos poucos no que se refere a igualdade e respeito.